FICHA TÉCNICA
ISBN: 9788535916263
Idioma: Português (Brasil)
Número de Páginas: 522
Companhia das Letras
Os Homens que Não Amavam as
Mulheres é um livro do escritor sueco Stieg Larsson, o primeiro
da Trilogia Millennium.
Chegou
as telas do cinema sueco em 27 de fevereiro de 2009, tendo Michael Nyqvist e Noomi
Rapace nos papéis principais. Em 2011 foi feito um reboot co – produzido entre
os Estados Unidos, Suécia, Reino Unido e Alemanha, sendo estrelado por Daniel
Craig e Rooney Mara nos papéis de Mikael Blomkvist e Lisbeth Salander
respectivamente.
*CONTÉM SPOILER*
Stieg
nos mostra duas histórias de distintos personagens: o jornalista Mikael
Blomkvist, co – proprietário e editor – chefe da revista Millennium, uma revista que desmascara escândalos de grandes
proporções principalmente na área das finanças; e a jovem e alternativa black hat Lisbeth Salander, uma jovem
que aparenta bem menos idade do que realmente tem, que vive sob tutela do
governo, pálida e anoréxica, com cabelo curto e bagunçado, e de piercings no
nariz e na sobrancelha, com problemas de socialização. Aparentemente as
histórias de ambos correm sem aparente ligação, mas obviamente elas se cruzam.
O
livro apresenta um prólogo muito interessante: um homem recebe um quadro com
uma planta seca enquadrada, uma desert snow, que faz parte de uma vasta
coleção. Descobrimos que esse personagem recebe um desses por ano, porém nada
mais, além disso. O prólogo se fecha e seguimos para o início da narrativa com
Mikael Blomkvist sendo declarado culpado em um caso de difamação contra uma das
mais influentes personalidades suecas: Hans – Erik Wenneström. Mikael deve
pagar um alto valor e ainda deve cumprir três meses de prisão. Ele então decide
se afastar um pouco das atividades da revista. Paralelamente a isso, seguimos a
vida de cracker de Lisbeth, que trabalha para a Milton Security como freelancer e um de seus trabalhos é
preparar um dossiê sobre a vida do jornalista Blomkvist.
Esse
cliente é na verdade Dirch Frode, advogado de Henrik Vanger, grande industrial
e ex – diretor administrativo do grupo Vanger. Ele possui um passado familiar
conturbado, é obcecado há quase 40 anos com o desaparecimento da menina dos
seus olhos: a sua sobrinha Harriet Vanger. Harriet sumiu sem deixar o menor
rastro na ilha em que estava com a família. Sem testemunhas ou qualquer tipo de
prova sobre o que aconteceu a ela. No dia de seu desaparecimento, um acidente
automobilístico fecha o acesso à ilha onde ela e diversos membros de sua
extensa família se encontravam. Entretanto, Henrik está convencido de que ela foi
assassinada. Aproveitando - se da problemática situação de Mikael, Henrik contrata
– lhe para escrever um livro sobre a biografia da família Vanger, como desculpa
para investigar o desaparecimento de Harriet. Mikael reluta, mas acaba cedendo
e ele aceita se instalar na ilha de Hedeby, em Hedestad, para investigar o
assunto. Paralela à pesquisa de Mikael, Lisbeth passa por maus bocados, até que
Blomkvist faz um importante passo na investigação e precisa de alguém para ajuda
- lo em uma pesquisa e os caminhos dos dois finalmente se cruzam.
Os Homens Que Não Amavam as
Mulheres é um livro fantástico, onde superar obstáculos, pessoas,
estigmas, e metas é fundamental. Stieg Larsson conseguiu reunir em uma única
obra elementos dos mais variados, para construir a sua trama: Violência Sexual,
Abuso Infantil, Preconceitos de Classes, Machismo, Psicose, Capitalismo,
Política, Ética, Sexo, Traumas Juvenis, Amor e etc.
É
um livro de rara beleza, muito bem escrito, de fácil assimilação sem usar de
artifícios pesados, e soluções mirabolantes. É consistente e fiel aos fatos,
invoca discussões sociais muito fortes, o preconceito e a marginalização
estereotipada de grupos sociais, muito bem representados na personagem de Lisbeth
Salander.
Falando
em Lisbeth, ela é a figura central do livro. Afinal o título é um remetente
muito forte a personagem, representante feminina marginalizada por homens de
comportamento libertino. Lisbeth também é uma grande representante da juventude
atual, complexada com seu corpo anoréxico e marcado por tatuagens, de vida
fechada e obscura que vive em meio a uma conjuntura virtual, um ser que gosta
de aventura, que delimita seus espaços, que faz do álcool e do sexo uma fuga
para a felicidade. Mesmo com todo esse estigma, Lisbeth Salander evoluiu muito
nesse livro e foi exatamente essa evolução um dos pontos mais marcantes do
livro, para mim.
É
impossível não falar de Mikael Blomkvist, e sua inteligência apurada. Um sábio
repórter, que como tantos é ludibriado, mas que consegue dar a volta por cima.
É hilário como Larsson, desenvolve a trama sexual de Mikael. Transforma o
personagem mais acessível ao leitor. Gostei do modo de Mikael é explorado ao
longo do livro, fazendo descobertas sensatas, racionais, balanceando com dose
fortes de emoção. É realmente marcante o embate ético causado pelas descobertas
de Mikael, em que ele se vê totalmente rechaçado por seu próprio ego, decidindo
o que melhor deve fazer.
O
mistério em torno do livro é muito bem explorado, deixando o leitor muito
curioso. A construção da Família Vanger, foi muito bem feita por Larsson, e nos
dá uma clara visão de como a obra foi feita com capricho. Este é um livro bem
denso e lotado de informações. Também é uma história pesada e cruel, os dados
que Larsson coloca ao longo do livro nos inícios de diferentes partes sobre a
quantidade de mulheres violentadas na Suécia são absurdos. Nos leva a imaginar
que o caso do livro pode muito bem ser uma realidade – cruelíssima por sinal.
Além
disso, foi muito interessante sair do circuito de lugares mais comuns e/ou
fantásticos expostos na maioria dos best – sellers e conhecer um pouco mais
sobre os costumes e a vida na Suécia.
É
praticamente impossível não se identificar ou ter uma enorme compaixão por
Lisbeth. Sua personagem é incrivelmente bem construída e percebemos ao longo da
leitura o quão errado é a impressão de incapaz que todos possuem dela: a
personagem é astuta, muito inteligente e acaba sendo uma peça crucial para o
desfecho do livro em diversas maneiras – tanto para o caso de Harriet quanto
para o Wenneström. O desfecho aliás, que é de tirar o fôlego de qualquer um.
Claro
que eu não poderia deixar de falar sobre a adaptação americana do livro com
Daniel Craig e Rooney Mara. A adaptação americana é tão pesada quanto a versão
sueca, não aliviando em nada nas cenas de violência física e sexual. Além
disso, é ainda mais "abusado" nas sequências de sexo, mostrando uma
entrega impressionante de Rooney. Ela, por sinal, se sai tão bem quanto Noomi
Rapace na pele de Lisbeth Salander, e ainda leva um pouco de vantagem ao
receber uma personagem um pouco mais complexa e interessante. Até por sua
estrutura física, Mara vive uma mulher mais frágil que a de Noomi, mas isso não
significa em nenhum momento perda de força ou de presença em cena. Recebeu
justamente uma indicação ao Oscar pela performance.
Há
tempos não via uma adaptação tão fiel e bem feita. Se você ainda não leu o
livro ou assistiu ao filme, faça – os já. Ambos. Não importa a ordem.
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