1 de abril de 2013

V DE VINGANÇA (ALAN MOORE, DAVID LLOYD E ILUSTRADORES)


FICHA TÉCNICA
ISBN: 9788565484107
Edição: 01/2012
Idioma: Português (Brasil)
Número de páginas: 305
Panini Books


“LEMBREM, LEMBREM O CINCO DE NOVEMBRO...”

V de Vingança é uma série de romances gráficos roteirizada por Alan Moore e desenhada por David Lloyd. A história se passa em um futuro sombrio de 1997 no Reino Unido, em que um misterioso anarquista tenta destruir o Estado, através de ações diretas.

Foi publicado originalmente entre 1982 e 1983 em preto e branco pela editora britânica Warrior, mas não chegou a ser finalizado. Em 1988, incentivados pela DC Comics, Alan Moore e David Lloyd retomaram a série e a concluíram com uma edição colorida. A série completa foi republicada nos EUA pelo selo Vertigo da DC e no Reino Unido pela Titan Books. No Brasil, foi publicada em 1989 em cinco edições em cores pela editora Globo e mais tarde pela Via Lettera, em dois volumes em preto e branco; em 2006 teve uma edição especial pela Panini, em volume único, colorido e com material extra. Atendendo a pedidos, em 2012 a Panini relançou esta edição especial.

A Graphic Novel serviu de base para a produção do filme homônimo em 2006. Natalie Portman estrela como Evey e Hugo Weaving interpreta V.

*CONTÉM SPOILER*

Encenada em uma Inglaterra de um futuro imaginário que se entregou ao fascismo
após uma guerra nuclear, considerada “pouco importante para merecer ser bombardeada”, o caos imperava até chegar ao poder um regime fascista e xenófobo. Quando a história começa, já encontramos o país em uma fase posterior aos expurgos, onde o povo vive em resignação, vigiado por câmeras 24 horas por dia. Os campos de “readequação” para onde foram conduzidos comunistas, negros, estrangeiros, homossexuais e outras minorias exatamente nessa ordem já foram desativados. Toda a cultura pop antiga foi erradicada pelo novo regime, que se divide em secções e que seguem as diretrizes apontadas por um computador chamado Destino. E contra tudo isso em busca de vingança, surge V.

V de Vingança tem um texto absurdamente denso, pesado e obscuro, o que é reforçado pela arte que foi milimétricamente pensada, ambos se completando. A Graphic Novel hoje em dia envelheceu em alguns aspectos, como a Voz do Destino, um programa de rádio comandado por Lewis Prothero (um dos carrascos de V no passado), responsável pela propaganda do partido, manipulação de informações e lavagem cerebral na população. Hoje em dia, com TV e Internet o rádio está quase obsoleto, e é quase impossível controlar os meios de comunicação e centralizar o discurso do governo (e, no entanto, a Voz do Brasil está aí até hoje!). Além disso, a ideia de um supercomputador, na obra denominado Destino, controlar todo o país já não é mais aceita. Mas de resto, a história continua assustadoramente atual. Vide a mídia estadunidense após 11 de setembro e os constantes ataques terroristas em diversos países, inclusive na própria Londres.

O clima opressor que dura por toda a leitura é maximizado por um senso de perversão dos homens no poder. Há o bispo pedófilo (envolvendo Evey vestida de criança) e o próprio Líder e seu amor incondicional por uma máquina (e os boatos de que ele seria virgem), servindo como uma metáfora para mostrar que o poder absoluto eventualmente deturpa tudo e todos. O próprio V também é bem cruel em sua vingança, mas afinal, ele tem os seus motivos.

É interessante observar o contexto histórico em qual a obra foi concebida, a Inglaterra estava implementando o sistema Capitalista Neoliberal com a primeira ministra Margaret Thatcher. Ao mesmo tempo o "Socialismo Real" da extinta URSS estava em total descrédito devido aos horrores do Stalinismo. Estes fatos ficam claramente evidenciados na narrativa.

A Obra de Moore e Lloyd é uma leitura um tanto pesada, por seu tema, tamanho e grande quantidade de texto, então é preciso reservar um bom tempo para apreciá-la com calma.

A Graphic Novel é uma arrebatadora, poderosa e aterradora história sobre perda de liberdade e cidadania em um mundo bem possível, ela captura a natureza sufocante da vida e a força redentora do espírito humano que se rebela contra situações adversas. Obra de surpreendente clareza e inteligência, traz inigualável profundidade de caracterizações e verossimilhança em um audacioso conto de opressão e resistência. V DE VINGANÇA permanecerá como uma das maiores obras dos quadrinhos de todos os tempos. Ela é libertadora.


“O GOVERNO DEVE TEMER O POVO, NÃO O POVO O GOVERNO”

***RESENHA POR DHIEGO ALPIN***

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