7 de setembro de 2014

DIVERGENTE (VERONICA ROTH)


FICHA TÉCNICA
ISBN: 9788579801310
Idioma: Português (Brasil)
Número de Páginas: 504
Rocco



OS SERES HUMANOS, DE UMA MANEIRA GERAL, NÃO CONSEGUEM SER BONS POR MUITO TEMPO ANTES QUE O MAL PENETRE NOVAMENTE ENTRE NÓS E NOS ENVENENE.

Divergente é o título do primeiro volume da série Homônima escrita por Veronica Roth. O livro foi lançado no Brasil em setembro de 2012 pela Editora Rocco.

Em 2014 o Livro ganhou uma adaptação cinematográfica estrelada por Shailene Woodley e Theo James, contando ainda com a presença de Kate Winslet.

*CONTÉM SPOILER*

A história se passa em uma Chicago de um futuro distópico, onde após uma guerra, que destruiu quase tudo, os que sobraram resolveram dividir a sociedade em cinco facções: A Amizade é o grupo formado por aqueles que culpavam a agressividade pelos problemas do mundo; a Franqueza, com sua honestidade excessiva, rendeu líderes confiáveis para a Justiça; os que culpavam a ignorância formaram a Erudição; os que acreditavam na culpa do egoísmo formaram a Abnegação, com líderes justos e altruístas; e a Audácia, que desprezava a covardia, ficou responsável por proteger a todos. As facções foram criadas com a intenção de evitar uma nova guerra, neutralizar as fraquezas da natureza humana, como eles dizem, para que se possa cultivar a “sociedade perfeita”.

Beatrice Prior, que aos 16 anos e prestes a ter que escolher uma das facções para viver, está no conflito de abandonar sua família e atual facção, a Abnegação, ou escolher ir para onde acredita pertencer. Para ajudar nesse momento difícil, todos eles passam por um teste direcional. Mas, no caso de Beatrice, a resposta não poderia ser mais inconclusiva: ela simplesmente não se encaixa em uma facção. É uma Divergente e, como tal, corre grande perigo – afinal, ela não pensa como os demais.

Ainda assim, lutando com sentimentos conflitantes, ela opta por fazer parte da Audácia e tornar-se uma daquelas pessoas ousadas que sempre admirou de longe. Mas as coisas não são tão fáceis e, em sua nova facção, ela precisará passar por um processo de iniciação rígido e perigoso. Com testes físicos, emocionais e mentais, a preparação para se tornar membro da Audácia pode ser mortal e apenas os melhores poderão ficar. Aos que fracassarem o destino é virar um sem-facção, uma espécie de escória, caso sobrevivam.

Com tanta pressão sobre si, ao mesmo tempo em que tenta entender os perigos de ser Divergente, Tris busca completar sua iniciação com sucesso. Com novos amigos, mas também cercada de novos inimigos, ela vai perceber que passar por isso não é só questão de honra, mas de sobrevivência.

O livro foca a maior parte do tempo na facção da Audácia, onde Tris está, mas também temos vislumbres da sua antiga facção, a Abnegação, e também da Erudição. Alguns membros da Franqueza estão com Tris na Audácia e temos contato com eles também, a única facção que fica meio esquecida é a Amizade.

Questionamento é a palavra que define o livro. O tempo todo vemos Tris questionar tudo e todos à sua volta e nos leva a pensar com ela. Será que segregar as pessoas em facções é a melhor opção? Podemos mesmo apresentar aptidão para somente uma facção?

Um livro com teor político e social merece ser lido e, principalmente, entendido. Tris é uma jovem com suas franquezas e virtudes, nem perfeita e nem horrível. Divergente é recomendado a todos que gostam de uma boa ficção distópica.

***RESENHA POR DHIEGO ALPIN***

O DOCE VENENO DO ESCORPIÃO – O DIÁRIO DE UMA GAROTA DE PROGRAMA (RAQUEL PACHECO E JORGE TARQUINO)

FICHA TÉCNICA
ISBN: 8576950170
Idioma: Português (Brasil)
Número de Páginas: 172
Panda Books




PRAZER, MEU NOME É RAQUEL. MAS PODE ME CHAMAR DE BRUNA.

O Doce Veneno do Escorpião – O Diário de uma Garota de Programa é um livro autobiográfico escrito por Raquel Pacheco, Bruna Surfistinha, em parceria com o jornalista e Ghost Writer Jorge Tarquino, sendo publicado em 2005 pela editora Panda Books.

O livro serviu de base para a produção do filme Bruna Surfistinha em 2011, com Deborah Secco, Cássio Gabus Mendes, Drica Moraes e Fabíola Nascimento nos papeis principais.

Raquel Pacheco era uma menina adotada, dividiu sua infância com mais duas irmãs – filhas biológicas do casal; e tinha complexos com sua altura e sua “forma de barril”. No desenrolar do livro ela conta uma parte de sua adolescência, seus relacionamentos com rapazes, e moças, sua vida de colegial, onde o limite sempre era desafiado.

Raquel torna-se uma adolescente problemática e o tratamento frio de seus pais, depois de diversas atitudes condenáveis que ela tomou, faz com que tenha uma decisão drástica. Tendo em vista as poucas possibilidades para uma garota da sua cidade, ela decide se tornar uma garota de programa, atendendo agora pelo nome de Bruna.

Durante sua vida adúltera, Raquel vivencia várias situações e as descreve, de forma chocante e algumas, ao mesmo tempo, cômicas. Ela descreve alguns casos reais vivenciados com seus clientes, dando vários detalhes e características, de seus programas, e durante a narrativa ela conflita com o seu eu verdadeiro a prostituta. Ela narra ainda, os bastidores deste mundo prostituído, inclusive a utilização de diversos tipos de drogas, onde seu consumo torna-se cada vez mais compulsivo.

Seus relatos são escritos de forma simples, coloquial, incluindo alguns palavrões, contudo, a descrição dos momentos sexuais não são puramente vulgares, isso acontece porque o foco do livro não é alimentar as fantasias do leitor. Apesar de ter um grande apelo sexual, o objetivo de Bruna foi passar sua experiência de vida.

O Doce Veneno do Escorpião – O Diário de uma Garota de Programa não é um livro excepcional, mas também não pode ser encarado simplesmente como uma diversão para se ler no fim de tarde. Mesmo sendo um livro consideravelmente leve, com uma linguagem fácil, ele possui um nível de comoção que é, sem dúvida, admirável. Raquel organiza os acontecimentos a serem narrados sem o estabelecimento de um tempo definitivo, ficando difícil saber de qual momento Raquel escreve e imprimi suas opiniões, o que deixa a narrativa bastante interessante. Fora os detalhes de escrita que, sim, é muito pobre, a forma vulgar e simples foi proposital para que o diário parecesse mais realista. É interessante lê-lo e conhecer a ponta do iceberg que é a vida de garotas de programa, um assunto muitas vezes proibido, e sempre polêmico. A obra ajuda a desvendar o tabu da prostituição, reumanizando as garotas de programa e mostrando, também, que elas têm consciência das consequências de seus atos.

***RESENHA POR DHIEGO ALPIN***

15 de agosto de 2014

HOLOCAUSTO BRASILEIRO (DANIELA ARBEX)



FICHA TÉCNICA
ISBN: 9788581301570
Idioma: Português (Brasil)
Número de páginas: 255
Geração

 
Holocausto Brasileiro é um livro-reportagem de autoria de Daniela Arbex. Foi publicado, em junho de 2013, pela Geração Editorial, A obra foi estabelecida a partir de um conjunto de reportagens investigativas feitas pela autora e publicadas online e impressas no Jornal Tribuna de Minas, de Juiz de Fora – MG em novembro de 2011. As reportagens basearam-se num extenso material documental e fotográfico, conquistando vários prêmios jornalísticos e resultando numa belíssima obra.

O livro apresenta, em detalhes, o requinte de crueldade que era utilizado nos internos do Colônia, que eram forçados a ficarem nus sob um frio de rachar a pele, comendo porcaria ou até ratos, rodeados por baratas e moscas, dormindo sobre a palha no cimento, tudo isso entre uma sessão de eletrochoque e outra, ou espancamento, ou mesmo lobotomia. Muitos praticaram trabalho forçado. Após morrerem de todo tipo de doença ou violência, seus corpos eram vendidos para faculdades de medicina, e sua passagem pela vida, apagada como se inexistente. Cabe ressaltar, que entre esses internos não se encontravam apenas portadores de algum distúrbio mental, muitos deles estavam ali por não possuírem documentos, por serem epilépticos, alcoolistas, homossexuais, prostitutas ou mesmo por se opor à algum político. Segundo dados oficiais, pelo menos 60 mil pessoas morreram por trás dos muros do Hospital.

Tirar esses 60 mil mortos e os poucos sobreviventes da invisibilidade é justamente a proposta da obra. E nesse aspecto, o livro cumpre com grande êxito a missão de preservar a memória do inferno dantesco que boa parte dos manicômios representaram ao longo da história não só no Brasil, mas no mundo. Além de incomodar, Holocausto Brasileiro é doloroso, quase repugnante e angustiante.

A existência do Colônia e de muitos outros sanatórios como este se deve a um conjunto de fatores históricos que vão desde a prática irresponsável da medicina, principalmente da psiquiatria, passando por uso em plena era moderna de técnicas medievais para conceituar e tratar a loucura. Misture-se a isso, ainda, o preconceito, a ignorância e o oportunismo de alguns.  



Para reconstituir a história do hospício, a autora entrevistou pacientes sobreviventes, psiquiatras, ex-funcionários. Foi pesquisar a fundo a história da luta antimanicomial no Brasil, revirou arquivos, leu Foucault e encontrou o acervo fotográfico de uma reportagem-denúncia feita pela revista O Cruzeiro, com imagens que por si só já contam essa triste história.


Daniela escreve com lirismo e seu texto flui, o leitor não sente o avançar das páginas. Mas em nenhum momento o livro, apesar de descrever aberrações cometidas de humanos contra humanos, apela para o sensacionalismo.


Holocausto Brasileiro expõe sim a miséria humana, mas não para se comprazer dela, não por morbidez. A intenção é mostrar que um lugar como o Colônia jamais poderá existir novamente, da mesma forma que não podem mais existir campos de concentração como aqueles mantidos pelos nazistas, ou os gulags da antiga União Soviética, ou ainda os navios negreiros e as senzalas do Brasil colônia.

A narrativa do livro é dividida em terceira pessoa para contar os relatos dos sobreviventes e de quem testemunhou o período e em primeira pessoa quando a autora expõe sua opinião. A capa é composta por fotos reais e a diagramação está caprichada com dezenas de fotos tiradas na época, principalmente, pelo fotógrafo Luiz Alfredo.

Hoje existe o Museu da Loucura numa antiga instalação do hospício e serve como um lembrete terrível dessa época. 
  
"UM GENOCÍDIO COMETIDO, SISTEMATICAMENTE, PELO ESTADO BRASILEIRO, COM A CONIVÊNCIA DE MÉDICOS, FUNCIONÁRIOS E TAMBÉM DA POPULAÇÃO, POIS NENHUMA VIOLAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS MAIS BÁSICOS SE SUSTENTA POR TANTO TEMPO SEM A OMISSÃO DA SOCIEDADE".

***RESENHA POR DHIEGO ALPIN***